Os
Boiadeiros são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica,
simples e persistente do homem do sertão, “o caboclo sertanejo”, são os
Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de viola.
Representa
a essência da miscigenação do povo brasileiro, o mestiço brasileiro, filho de
branco com índio, índio com negro e assim vai. Ganhando a terra do sertão com o
seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o
índio: suas ervas, plantas e cura; um pouco com o negro: seus Orixás, mirongas
e feitiços; e um pouco com o branco: sua religião (posteriormente misturada com
a do índio e a do negro), costumes, crendices, supertições, fé e sua língua,
entre outras coisas.
Dá
mesma maneira que os Pretos-Velhos representam a humildade, os Boiadeiros
representam a força de vontade, a liberdade e a determinação que existe no
homem do campo e sua necessidade de conviver com a natureza e os animais,
sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande. São habilidosos
e valentes.
Fazem
parte da linha de caboclos, dentro da vibração de Oxóssi, mais na verdade são
bem diferentes em suas funções. Formam uma linha mais recente de espíritos,
pois já viveram mais com a modernidade do que os caboclos, que foram povos
primitivos. Esses espíritos já conviveram em sua ultima encarnação com a
invenção da roda, do ferro, das armas de fogo e com a prática da magia na
terra. Saber que boiadeiros conheceram e utilizaram essas invenções nos ajuda
muito a diferenciarmos dos caboclos.
Mas
também são regidos por Iansã-Oyá, tendo recebido da mesma a autoridade de
conduzir os eguns da mesma forma que conduziam a boiada, onde levam cada boi
(espírito) para o seu destino, e trazem os bois que desgarram (obsessores,
quiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem).
Suas
maiores funções não são a consulta como a dos Pretos-Velhos, nem como os
Caboclos, e sim o “dispersar de energia” aderida aos corpos, paredes e objetos.
É de extrema importância essa função, pois enquanto os outros Guias podem se
preocupar com o teor das consultas e passes, os Boiadeiros “sempre” estarão
atentos a qualquer alteração de energia do local (entrada de espíritos
negativos).
Portanto,
quando eles bradam altos e rápidos, com tom de ordem como se estivessem laçando
se gado, estão na verdade ordenando aos espíritos que entraram no local a se
retirarem, assim “limpam” o ambiente para que a prática da caridade continue
sem alterações, já que a presença desses espíritos muitas vezes interfere nas
consultas de médiuns conscientes. Esses espíritos atendem aos Boiadeiros pela
demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para
locais próprios de doutrina. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias
negativas e descarregando os médiuns, o Terreiro e as pessoas da assistência.
Outra
grande função de um Boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um
Terreiro, sejam elas médiuns da Casa ou consulentes.
Costumam
proteger demais seus médiuns nas situações perigosas. São verdadeiros
conselheiros e castigam quem prejudica um médium que ele goste. “Gostar” para
um boiadeiro é ver no médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é
considerado por ele “filho”. Fortalecem seus médiuns abrindo as portas para a
entrada dos outros Guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exus.
Eles
nos ensinam a força que um trabalho tem e que o principal elemento de sua magia
é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma vida melhor e farta.
Eles
são logo reconhecidos pela forma diferente de dançar, são rudes nas suas
incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos, vem sempre gritando e
agitando os braços como se possuísse na mão um laço para laçar um novilho.
Nos
trabalhos usam velas, pontos riscados e rezas fortes para todos os fins. Alguns
usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas.
Os
Boiadeiros apresentam bastante diversidade de manifestações. Boiadeiros menino,
Boiadeiro da Campina, Boiadeiro Bugre e muitos outros tipos de Boiadeiros,
sendo que alguns até trabalham muito próximos aos Exus.
Nomes
de alguns Boiadeiros:
Boiadeiro
da Jurema
Boiadeiro
do Lajedo
Boiadeiro
do Rio
Carreiro
Boiadeiro
do Ingá
Boiadeiro
Navizala
Boiadeiro
de Imbaúba
João
Boiadeiro
Boiadeiro
Chapéu de Couro
Boiadeiro
Juremá
Zé
Mineiro
Boiadeiro
do Chapadão, etc.
Marrambá
che tuá Boiadeiros é uma das saudações para esse povo, ou Chetu, Marrumba che,
Getuá, ou ainda simplesmente Saravá meu Pai Boiadeiro.
Seu dia
é quinta-feira, gostam de bebidas fortes como, cachaça com mel de abelha, que
eles chamam de meladinha, bebem vinho e marafo, fumam cigarro, cigarro de palha
e charutos.
Seu prato preferido é carne de boi com feijão
tropeiro, feito com feijão de corda ou feijão cavalo. Os Boiadeiros também
gostam muitos de abóbora com farofa de torresmo.
Em suas
oferendas é sempre bom colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha.
Os Boiadeiros são
grandes trabalhadores do astral e defendem todos das influencias negativas com
muita garra e força espiritual.
Oração
aos Boiadeiros
Meu
amigo Boiadeiro!
Tu que
guia teu gado pelas porteiras dos caminhos de Ogum, que passa por rios, sob o
sol e chuva com seu berrante a anunciar a sua chegada, com seu chicote em punho,
hábil com o laço e não deixa demanda criar. Ajudai-me nesta hora, abras as
porteiras dos meus caminhos, traga no teu laço aqueles que me querem mal, que
na sua chibata haja justiça na minha causa.
Que eu
encontre em meus caminhos a solução pros meus pedidos.
Que
assim seja.
Trecho extraído do JUCA – Jornal de
Umbanda Carismática 07/2008
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